Acostumado a abastecer com gasolina, por conta do custo/benefício, o consumidor foi pego de surpresa com o apelo"Mais
potente, polui menos, é renovável e gera muito mais empregos. O etanol é
o combustível completão". Este é o slogan de mais uma campanha,
veiculada na TV, para incentivar o consumo de etanol em veículos em todo
o País. Nos últimos anos, acostumado a abastecer o carro com gasolina,
por conta da comparação custo/benefício entre esses combustíveis, o
consumidor foi pego de surpresa com o apelo. Como justificar a
iniciativa, quando financeiramente o uso do álcool, como é popularmente
conhecido, não é vantajoso para o consumidor?
Segundo os
especialistas, abastecer com etanol só vale à pena quando o preço do
litro não ultrapassar 70% o da gasolina. Uma relação que está longe de
existir em muitos Estados, a exemplo do Ceará. Conforme o último
levantamento semanal da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP), essa proporção chega a 84% no Estado, tendo em
vista um preço médio de R$ 2,353 para o etanol e de R$ 2,809 para a
gasolina.
MercadoNão é à toa o
vertiginoso aumento no consumo do derivado de petróleo em detrimento do
combustível a partir da cana de açúcar. Nos últimos cinco anos, a venda
do primeiro saltou de 615,54 milhões de litros no Ceará para 1,12
bilhão, um avanço de quase 82%. Ao passo que, ao contrário, a
comercialização de etanol despencou aproximadamente 40%, saindo de
152,94 milhões de litros, em 2008, para apenas R$ 93,42 milhões, no ano
passado. Os números também são da ANP. Para se ter uma ideia,
atualmente, a gasolina representa aproximadamente 38% do total de
combustíveis consumidos anualmente no Estado, enquanto o álcool 3,2%. Há
cinco anos, esse mercado era maior, pois a representatividade chegava a
7,42%, com a gasolina detendo 31%.
Causas"Fatores
como o direcionamento da cana para fabricação de açúcar em detrimento
do etanol prejudicaram o desenvolvimento desse combustível no Brasil,
fazendo com que a oferta fosse menor, impactando, assim, no preço. Ao
mesmo tempo, uma política energética focada no petróleo, por conta do
pré-sal, e com o governo desonerando a gasolina, fez também com que o
preço do álcool passasse a ficar desvantajoso", explica o assessor de
Economia do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do
Ceará (Sindipostos), Antônio José Costa.
Conforme disse, há uma
década, embutido no preço da gasolina estavam R$ 0,59 relativos à Cide,
que hoje em dia não são mais cobrados. "Se atualmente a Cide ainda
incidisse no custo da gasolina, o consumidor estaria pagando, em média,
bem mais que R$ 3,00 no litro", argumenta. "Então, tudo isso fez com que
o preço da gasolina se aproximasse do valor cobrado pelo etanol,
desestimulando o seu consumo", afirma.
De acordo com Costa, a
campanha de incentivo ao uso do álcool não deve surtir efeito no curto
prazo. "Financeiramente, consumir etanol não vem sendo vantajoso, só se o
consumidor for educado ambientalmente para isso, pois proteger ao meio
ambiente atualmente é a única vantagem para o consumo", argumenta.
"Entretanto, com as medidas recentemente adotadas pelo governo a fim de
estimular a produção e aumentar a oferta de etanol, no médio prazo,
dentre uns três a quatro anos, quando o canavial estiver renovado e as
usinas estiverem utilizando um novo maquinário, os preços do etanol
tenderão a baixar nas bombas", emenda.
Em abril deste ano, o
governo federal anunciou um pacote de benefícios para o setor de açúcar e
álcool: elevou o percentual de etanol na gasolina de 20% para 25%; vai
fazer uma compensação tributária que equivale a zerar o PIS e a Cofins
do etanol; assim como reduziu de 9,5% para 5,5% a taxa de juros anual da
linha de financiamento voltada à renovação dos canaviais; e de 10% para
7,7% naquela para investimentos em estocagem do produto. O objetivo
principal é viabilizar condições para que o setor faça mais
investimentos. Entretanto, não garantiu queda no preço do etanol.
Diferença22
reais é quanto o consumidor vai pagar a mais se decidir encher um
tanque de 50 litros com gasolina em vez de álcool, tendo em vista os
preços médios no Ceará.
ANCHIETA DANTAS JR.REPÓRTER
OPINIÃO DO ESPECIALISTAFaltou vontade e regulaçãoCreditamos
a uma combinação de fatores, que causam incertezas no mercado
consumidor e especulação de preços ao longo da cadeia de abastecimento
quando da escassez, o fato de o consumo de etanol ter caído tanto. Ele é
uma commodity sujeita aos movimentos do mercado. Caso o preço
internacional seja atrativo, parte-se para a exportação deixando-se o
mercado interno em segundo plano. Devemos lembrar que pelos mesmos
motivos, o Pró-Álcool nos idos dos anos 70 acabou fracassando pela
insegurança da disponibilidade aliada a baixa tecnologia à época de
motores movidos a esse combustível. E a vantagem financeira para o uso
do etanol fica limitada quando seu preço atingir 70% do preço da
gasolina nas bombas. Vejo que faltou e falta vontade política e
regulamentação clara e firme nas áreas de produção, distribuição e
revenda, incluindo estoques reguladores nas entre safras. Temos nas mãos
a "galinha dos ovos de ouro" como alternativa energética e não estamos
sabendo tirando proveito de uma fonte renovável e sem o impacto negativo
no meio ambiente. Se aplicarmos uma logística de transporte e
abastecimento inteligentes não haveria razões para a discrepância de
preços entre regiões.
Bruno IughettiConsultor de Petróleo e Combustíveis
Produtores do NE terão R$ 425 miBrasília.
O governo federal anunciou na última segunda-feira (20) uma ajuda de R$
0,20 por litro de etanol para produtores do Nordeste para a safra deste
ano. O total do benefício será R$ 425 milhões, segundo informou o
secretário executivo adjunto do Ministério da Fazenda, Dyogo de
Oliveira. "O anúncio tem a ver com o processo de negociações que
estávamos tendo com os produtores rurais e com os produtores de etanol
em função dos prejuízos que estão tendo nos canaviais", explicou.
A
iniciativa representará uma ajuda de R$ 0,20 por litro de etanol aos
produtores do Nordeste para a safra deste ano FOTO: NATINHO RODRIGUESA
ajuda está na Medida Provisória (MP) 615, publicada no mesmo dia no
Diário Oficial da União, que também autorizou uma subvenção para
produtores de cana-de-açúcar do Nordeste e o financiamento da renovação e
da implantação de canaviais.
Oliveira diz que haverá uma
readequação do Orçamento para conceder os benefícios. "Estamos
verificando como será feita a adaptação do Orçamento, mas, com certeza,
será feita respeitando os limites de despesas e de superávit primário".
Para ter direito à ajuda, o produtor terá que apresentar à Agência
Nacional do Petróleo (ANP) a comprovação de produção do etanol.
A
MP também traz uma nova possibilidade de o governo capitalizar a Conta
de Desenvolvimento Energético (CDE), que irá financiar parte da redução
na conta de energia. Além da aplicação de recebíveis, o governo poderá
colocar títulos da dívida pública na CDE. "É uma prerrogativa meramente
operacional ", disse o subsecretário do Tesouro Nacional, Cléber de
Oliveira.
Diário do Nordeste